ilustração de Mel Votta
Brincava também de Barbie. Tinha umas quinze: loira, morena, pixaim, sem pescoço, sem perna, sem roupa.
Mas tinham duas com nomes próprios que sua mãe, dona Arlinda, apelidou carinhosamente: Carmita e Lapa.
Carmita era uma homenagem de sua mãe à uma amiga de adolescência que quase não tinha pescoço, atarracada. Logo a Barbie que teve sua cabeça arrancada (no miolo da cabeça tinha uma bolinha que fixava ao pescoço, se quebrasse essa bolinha, já era) era preciso encaixar a cabeça no pescoço até ficar bem firme, por ter essa semelhança recebeu esse carinhoso nome.
Já a Lapa nada em a ver com o bairro paulistano. Também era um nome de uma amiga de dona Arlinda que tinha a seguinte característica: quando usava tranças nos cabelos, as mesmas ficavam extremamente esticadas e espetadas. A boneca que apresentava o cabelo espetado era a Lapa.
Claro que Jurema tinha as suas preferidas e deixava as mais acabadinhas para suas primas. Tinha até a da Angélica (apresentadora) que na época era cheinha: coxa grande e tal. Ah, ía me esquecendo de dizer. Tinha o Ken (que péssimo nome para dar a uma boneca do sexo masculinho. Se bem que até hoje Jurema acredita que ele seja uma espécie de boneco gay...mas porqueê Ken??).
Jurema tinha 4: Um sem pernas, que ninguem queria brincar; um loiro e o moreno.
A briga com suas irmãs era feia. Com as amigas ganhava no grito.
Tinha Barbie vai à praia, quando as brincadeiras eram no tanque de lavar roupa. O apartamento da Barbie era a estante da sala de dona Arlinda. Ou seja, tudo era improvisado, já que para adquirir a casa da Barbie e seus pertences tinha de ter uma condição financeira um pouco melhor, era um luxo.
Hoje em dia, Jurema e dona Arlinda sempre relembram desses personagens.
Embora ontem, chegando para visitar sua mãe, Jurema recebe a notícia. A verdadeira Carmita faleceu.