quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Barbie x Carmita

ilustração de Mel Votta


Quando Jurema era ainda Jureminha, brincava de casinha, escolinha, pega-pega, pique-bandeira, amarelinha e todas as brincadeiras com diminutivo e hífen.
Brincava também de Barbie. Tinha umas quinze: loira, morena, pixaim, sem pescoço, sem perna, sem roupa.
Mas tinham duas com nomes próprios que sua mãe, dona Arlinda, apelidou carinhosamente: Carmita e Lapa.

Carmita era uma homenagem de sua mãe à uma amiga de adolescência que quase não tinha pescoço, atarracada.  Logo a Barbie que teve sua cabeça arrancada (no miolo da cabeça tinha uma bolinha que fixava ao pescoço, se quebrasse essa bolinha, já era) era preciso encaixar a cabeça no pescoço até ficar bem firme, por ter essa semelhança recebeu esse carinhoso nome.

Já a Lapa nada em a ver com o bairro paulistano. Também era um nome de uma amiga de dona Arlinda que tinha a seguinte característica: quando usava tranças nos cabelos, as mesmas ficavam extremamente esticadas e espetadas. A boneca que apresentava o cabelo espetado era a Lapa.

Claro que Jurema tinha as suas preferidas e deixava as mais acabadinhas para suas primas. Tinha até a da Angélica (apresentadora) que na época era cheinha: coxa grande e tal. Ah, ía me esquecendo de dizer.  Tinha o Ken (que péssimo nome para dar a uma boneca do sexo masculinho. Se bem que até hoje Jurema acredita que ele seja uma espécie de boneco gay...mas porqueê Ken??).
Jurema tinha 4: Um sem pernas, que ninguem queria brincar; um loiro e o moreno.
A briga com suas irmãs era feia. Com as amigas ganhava no grito.

Tinha Barbie vai à praia, quando as brincadeiras eram no tanque de lavar roupa. O apartamento da Barbie era a estante da sala de dona Arlinda. Ou seja, tudo era improvisado, já que para adquirir a casa da Barbie e seus pertences tinha de ter uma condição financeira um pouco melhor, era um luxo.

Hoje em dia, Jurema e dona Arlinda sempre relembram desses personagens.
Embora ontem, chegando para visitar sua mãe, Jurema recebe a notícia. A verdadeira Carmita faleceu.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Vá pá puta que te pariu!

ilustração de Mel Votta
Se você não tem lugar para ir num sábado chuvoso, fique em casa. Não fique inventando passeios viajantes, mirabolantes, estressantes depois ou estratégias de última hora. Fique em casa. Sã e salva.
Não faça o que Jurema fez.
Foi ao shopping. Jurema se fode mais uma vez. Não que ela não goste de comprar coisinhas, mas, na boa, puta roubada!
Atravessou a cidade de ônibus coletivo, se meteu em quebradas jamais vistas. Pegou chuva. Chegando lá, Jurema se deparou com todas aquelas famílias metidinhas e grã-finas, com suas mini-bolsinhas a tira colo, desfilando com sacolas cor-de-rosa-verde-azul-anil.
E Jurema almoça com seu marido Afrânio, gastando a bagatela de 30 reais (com essa grana, dá para comprar a mistura de uma semana!!). Enfim, vale mais pelo passeio, como já dizia Jurema-mãe.
Para aguardar o horário de saída de Afrânio, Jurema pegou um cineminha, toda feliz. Foi assistir o capitão pedir respeito (e dessa vez não foi o D2) no Tropa de Elite 2. Jurema gostou tanto do filme que vibrou a cada cena, com sonoplastias semelhantes as do lendário seriado Batman E Robin (pow! bang!). Sem falar na vontade de sair da sala de cinema com o instinto matador de patricinhas (serial killer). Bang!
Mas foi só uma vontade. Passou, passou...
Jurema foi pra casa fazer a janta...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Na minha época, educação era fundamental

Ilustração em feltro: Mel Votta

Como de praxe, Jurema foi trabalhar. A cada dia que passa o metrô de São Paulo está cada vez mais infernal. Pessoas se acotovelando, brigando por meio metro quadrado, disputando o corremão e a gripe do porco rolando solta.
Ontem disseram pra Jurema, que se soubéssemos onde as pessoas colocavam a mão, jamais cumprimentaríamos. Eu hein!
Bom, hoje foi um dia como todos na vida da Jurema. Mas cada dia ela observa algo diferente no comportamento sub-humano das pessoas, principalmente no que diz respeito ao transporte coletivo.
Quando inventaram essa merda de autofalante nos celulares, ler um livro no metrô ou ônibus ficou quase impossível, uma tarefa transcendental, um estado profundo de meditação, onde deve-se desligar completamente os ruídos, cheiros, papos cabeludos, cotoveladas, empurra-empurra pra poder conseguir ler duas palavras.
Pois bem. Jurema estava chegando ao seu destino final quando ao seu lado senta-se uma jovem estilo *Paty-favelinha, com uma merda de um celular rosa-pink, ouvindo funk carioca no talo pra quem quisesse e quem não quisesse ouvir. Jurema suspirou fundo, levantou os olhos por cima do livro e mirou os olhos na garota que não se abalou.
Jurema olhou para os lados pra saber se somente ela havia se sentido incomodada com tamanha falta de educação e falta de noção. Outras pessoas sentiram-se como se estivessem sentadas em pedregulhos pontiagudos, como chamamos vulgarmente de pula pirata!
Mas a menina não se intimidou e ainda insinuava passos sentada na cadeira com sua calça tapa-sexo e blusinha colada, deixando a mostra sua excelente forma física (redonda).
Era perceptivelmente escroto o exagero da vestimenta e a ausência de gosto musical, quando a menina mudou de banco!
Jurema se sentiu levemente aliviada, mas a figura sentou-se a dois bancos de distância.
- Que caralho, será que ela não se toca?
Não Jurema, semancol? Imagine, as pessoas não sabem o que é isso nem nunca ouviram falar. Seria necessário tomar 10 doses diárias para recuperar ou tentar melhorar tamanho egoísmo.
- Na minha época, existia fone de ouvido.
Na minha também, Jurema. Hoje as pessoas competem pra ver quem tem o autofalante mais alto e a sonzera mais da hora mano!
- Não vejo a hora de comprar meu mp3 pra poupar meus ouvidos dessa porcaria toda!
Sim, Jurema, entre outras coisas também, como a conversa aberta entre duas mulheres comentando sobre suas experiências sexuais para quem quisesse ouvir.
Pois é, novamente, a Miséria S/A agradece e nossos ouvidos também.


*Paty-favelinha: ser humano de sexo feminino, moradora ou frequentadora assídua de região periférica, característica vestimenta desprovida de requinte e discrição. Possui comportamentos exacerbados principalmente em locais públicos e coletivos.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Jurema voltou! Jurema voltou...com o Pão de Minuto!

A Jurema tem andado meio ausente ultimamente, mas ela se justifica:
- Estou inconformada com o ser humano...quero me exilar em uma ilha com um monte de bichos: cachorro, gato, papagaio, macaco. Eles sim, são sensíveis e nos entendem...

Bom, depois desse breve sumiço, nada como uma receita super fácil e rápida de fazer.

Jurema costumava visitar seu casal de amigos Zé Igor e Mel umas três vezes por semana, lá em Santo André. Como Jurema só fazia bicos e seus amigos tinham muito tempo ocioso, momentos como esses eram desperdiçados com muitas atividades lúdicas: jogando WAR, jogando Vídeo-game (playstation, por favor), Jogo da Vida, Uno ( uuuuuno!), às vezes, até pegar os brinquedos do Ilê, filho do casal, era motivo de alastração.

Mas passar o dia inteiro na casa dos Marmotas, carinhosamente apelidados pela Jurema e seu marido Afrânio, também tinha de encher o bucho. Ou se empanturravam de pão da padaria da esquina (Jurema comia uns 4, mas sempre sentia dores de cabeça e gases, porém comia sempre!) ou faziam aquela refeição familiar com tudo de direito. Ah, sem esquecer é claro que maços e maços de cigarros foram gastos acompanhados de muito café...

Certo dia, Jurema, Afrânio, Mel, Zé Igor e Tio Nini estavam durangos. Os únicos centavos que tinham foram somados para comprar uma dose de cachaça e 1 limão para uma caipirinha.
Mas a fome bateu e Mel foi logo sugerindo a linda receita de PÃO DE MINUTO:
-Não fica pronto em 1 minuto, mas em uns 5.
- Sim, você leva menos de 1 minuto pra comer a receita toda.

Ingredientes
2 ovos
2 ½ xícara de farinha de trigo
2 colheres (sopa) margarina
2 colheres (sopa) açúcar
½ colher (chá) fermento em pó
½ colher (chá) de sal
½ xícara de leite
2 colheres de queijo parmesão ralado a gosto

Preparo
Peneirar a farinha, o açúcar, o fermento e o sal. Abrir um buraco no meio e acrescentar a margarina, o queijo e os ovos batidos. Misturar com uma colher e juntar o leite, aos poucos, até obter consistência de enrolar, sem ficar muito duro. Misturar rapidamente com duas colheres, colocar pequenas porções de massa em assadeira untada. Retirar do forno quando dourados, aprox. 5 minutos.

Moral da história: Todos comeram todos os pães de minutos com manteiga, com goiabada, com maionese, com requeijão, com tudo o que era possível misturar e que havia na geladeira.

É uma ótima receita pra quando chegar uma galera na sua casa. Pode ser servido com geléia, patês ou só com manteiga que fica diliciooooso.
A miséria S/A agradece...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Caceti di caceti di dor!

Hoje está calor. Ontem a umidade do ar chegou a 12%. Jurema adora o calor, mas passar calor na cidade de pedra é um inferno na terra.
Lá no serviço da Jurema, não há ar-condicionado, só uns ventiladores meia-boca*. As cortinas são aquelas persianas de pano, quando bate um vento arrebenta tudo as correntinhas!
Pois bem, Jurema se concentra em seu trabalho e o calor está sufocante.
Sente uma leve dor de cabeça
- Deve ser a pressão...
Bebe um, bebe dois, bebe três copos d’água mas a danada da cefaléia continua a insistir.
Quando termina o expediente, corre para o banheiro, lava o rosto e segue até o ponto de ônibus com uma cara de moribunda, olhos fundos, ombros para baixo, boca aberta.
- Cacete de dor de cabeça!
Passou por uma barraquinha e acabou comprando um salgado de frango com catupiry que Jurema gentilmente chama de “travesseiro de frango”, por apenas 1 real, pra ver se a dor na jaca não era fome...que nada!
Pega o metro, faz baldiação, sua, sua, sua!!
Chega em casa, toma uma cerva gelada com seu marido, pra refrescar, e a dor não passa.
Toma um banho, deita na cama e lá vai:
- TUM! TUM!
Enxaqueca das fortes!
A dor realmente só passa quando Jurema toma a neusa e dá boa noite...zzz...

Que tipo de enfermidade atacou a Jurema??
O que você tomaria ou faria para amenizar a dor?

*meia-boca: não tem nada a ver com derrame, nem boca torta, nem metade da boca. Quer dizer "mais ou menos", "pra quebrar o galho", sacou?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Votem na Jurema e no Lindolfo Pires!

Com toda essa onda eleitoral, Tiririca, Netinho e o raio que o parta, Jurema ficou pensando, em seu sofá, o que faria se fosse candidata e eleita a deputada estadual na Paraíba...
- Eu daria duas marmita pros pedreiro, horário do café com bolo de fubá, trabalho só depois das 10 da manhã, todo jegue tem que dar carona ou toma multa, direito a viajar pra qualquer lugar de sumpaulo e um ingresso.
Mas pra quê o ingresso Jurema?
- Pra ver o comício do Lindolfo Pires! Eu seria do partido dele e ainda cobraria pra ver o comício e cantar a musiquinha lá...
Bem, vocês ainda não ouviram a musiquinha lá, então, ouçam vocês mesmos e tirem as suas próprias conclusões.
Jurema:
- Podia até lançar uns cd pra nóis pode comprar né, pra podê ouvir no rádio de casa...hehehe

http://www.lindolfopires.com.br/

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Morar em São Paulo é de foder!

Sim, o paulistano se fode todos os dias, o baiano, o pernambucano, gaúcho...
Toda essa gente que vive em São Paulo, hoje, 23% de umidade relativa do ar, é enrabado todo o santo dia. Calma, não levem a Jurema por trás, ela só está um pouco nervosa e ainda precisa preparar a janta pro pessoal.
Hoje é no metrô, amanhã é no trânsito, trabalho, sempre a mesma coisa.
Jurema vai de metrô.
Às 7h30 da manhã as pessoas disputam entre os poucos lugares vagos no vagão, seja de pé, sentado, pindurado, escorado, tanto faz. Jurema está lendo seu jornal que pegou na porta do metrô e se informa sobre as notícias de ontem, quando ouve anunciar:
- Senhores passageiros, para melhorar os lugares disponíveis, informamos que este trem prestará serviço somente até a estação São Bento.
Jurema logo pensa:
- Fodeu, fodeu, tenho que ir até o Tietê....fodeu!
E lá vai ela, uma senhora e mais um rapaz já indignado. E para confirmar a indignação de Jurema, ao chegar ao suposto vagão vazio, é claro, já estava cheio!
Jurema resmungou:
- A gente só se fode, pra variar, somos todos uns otários.
Naquele momento Jurema esqueceu-se que estava sendo observada por outros passageiros, porém concordaram com sua expressão um pouco forte para o horário:
- To me sentindo muito otária aqui...mas é o que faço todo o dia...me fazem de otária..
Jurema foi de pé até o Tietê encoxada no cano...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Donde estan las lixeras??

Dias sim, dias também, acordar com um frio de 10 graus tem sido um infortúnio (funéria ficaria puta uma hora dessas).
Neste ano, o inverno chegou chegando com os dois pés no peito. Modelito cebola à parte, cinco casacos não são suficientes, mas uma pequena caminhada de vinte minutos pela manhã até o trabalho dá para aquecer as orelhas. Mesmo tendo tomado café da manhã, Jurema sente fome ou larica, ou qualquer outro nome que você queira dar. Ela toma um chá mate com fruta e doze mini-pães de queijo por um real. Mas onde estão os cestos de lixo? Num raio de 2 quilômetros, Jurema vai levando seu copinho de chá para passear, vazio...passa por três tampas de cestos de lixo e cadê os lixos??
Fica alternando as mãos dentro do bolso de seu casaco pois já estão ficando duras e com câimbras de tanto frio...pobrezinha, sem encontrar um lixo pelo caminho.
Mas é isso aí. Jurema não consegue jogar o lixo no chão, guarda o copinho na bolsa e chega para mais um dia de trabalho.